quinta-feira, 8 de abril de 2010

Oratória da política II

Regras de oratória na Política

Falar em público não é apenas falar alto para todos ouvirem – e isto é o que se vê - Falar em público é sustentar outro tipo de comunicação, diferente da forma usual. Não é por outra razão que, desde os clássicos gregos, a oratória foi tratada como uma disciplina a ser ensinada, e uma arte a ser praticada.

O que torna o ato de falar em público uma arte é que nele, contrariamente à representação teatral, o conteúdo da comunicação é variável, de livre determinação do orador, e o interesse da platéia não está previamente assegurado, pela sua mera presença. Conseguir ser ouvido, reter a atenção, emocionar pessoas, persuadi-las com argumentos, são desafios que se renovam sempre, na medida em que muda a platéia. Eis então algumas dicas:

1. Antes de qualquer coisa, é preciso ter consciência do que se deseja dizer ao público-alvo. Para isso, organize-se mentalmente sobre a sua mensagem, sua idéia e apresente-a de forma clara e convincente. Ela deve receber um destaque no discurso equivalente à força persuasiva que você deseja que ela tenha para seus ouvintes.

2. Seja relevante para o público que o ouve - Um político em campanha fala para múltiplos públicos. Cada público é sempre diferente do outro. Isto não significa que você deva mudar a sua mensagem, o seu discurso básico (Atenção: a repetição é um defeito na comunicação pessoal, mas uma qualidade na comunicação política). Significa que você deve adaptar seu discurso (relevância para eles dos assuntos que vai abordar, tempo, eloqüência, tipo de linguagem, recursos de oratória - humor, narrativa, dramaticidade) para aquele público específico e real diante de você.

3. Crie o clima para lançar sua idéia, argumento - a idéia central não pode ser tratada de golpe, subitamente. Ela exige que você faça uma preparação prévia, crie o clima para que ela seja apresentada no momento certo para produzir o efeito desejado. A criação do clima pode ser feita apresentando estatísticas (poucas, simples de lembrar e contundentes), ou contando uma estória, ou usando um fato recente de conhecimento do público, ou ainda dramatizando o problema para dar atrativo à solução.

4. Se você pretende falar sobre um problema, comece relacionando-o com a vida das pessoas que estão no público; valorize o problema - descreva-o, ilustre-o, apresente exemplos (as pessoas tendem a dar mais atenção à doença e aos seus sintomas, do que à cura); a seguir faça um diagnóstico preciso; para só depois apresentar a sua solução, da forma mais atraente, resolutiva, viável e realista que conseguir. Não se esqueça de levar as pessoas a visualizar os benefícios concretos que advirão da solução que propõe.

5. Crie uma relação com sua audiência - O ritmo que você der à sua fala, a repetição de uma expressão ou frase em seqüência para abordar diferentes temas, as pausas que você deve fazer no discurso, devem articular-se com reações do público, acima de tudo com os aplausos, criando um diálogo entre você e sua audiência.

6. É importante para criar aquela relação com a audiência que você olhe para eles enquanto fala. Alterne o olhar de conjunto com o olhar para diferentes lados da sala, concentrando em grupos de pessoas, e até numa delas de maneira focada. Estes grupos que recebem o seu olhar direto tendem a reagir primeiro à sua fala e responder com reações que se estendem para o conjunto.

7. Uma reunião política sempre possui seus imponderáveis. É o som que falha, o público é maior/menor que o previsto, é a súbita mudança do clima, é a luz que falta, até os imprevistos provocados pela audiência como brigas e discussões, o bêbado de plantão, provocações de adversários etc. Navegue em meio a estes imprevistos com bom humor, paciência e serenidade. Seu objetivo é conseguir fazer passar sua mensagem, mesmo diante de dificuldades inesperadas.

8. Parece óbvio, mas não é. Reuniões políticas são também reuniões sociais, onde conhecidos se encontram e aproveitam a oportunidade para conversar. A menos que seu discurso seja feito num contexto de maior formalidade, a regra será o ruído e a movimentação de pessoas. Gradue o tom e a intensidade de sua voz de acordo com ele. Mas isto não basta. Se você falar mais alto, a ponto de as pessoas não se ouvirem quando conversam, elas também aumentarão o tom. Só há uma saída: você precisa de um mínimo de silêncio inicial para conquistar a atenção deles. Por isto, encontrar um vínculo emocional é tão importante. Atenção, emocional não significa pieguice. Se você iniciar seu discurso falando sobre um assunto relevante para eles e que vá ao encontro de um sentimento forte que nutrem (temor, preocupação,indignação, desejo, esperança etc), você tem maiores chances de conseguir conquistar a atenção do seu público e ser ouvido.

9. Pontualidade não tem a ver diretamente com discurso em si, mas tem muito a ver com o estado de espírito do seu público. Pessoas reunidas por muito tempo, esperando pelo orador tendem a desenvolver uma má vontade para com ele. Não é necessária, no caso brasileiro, uma pontualidade britânica, mas o atraso não deve exceder 30 minutos.

10. Referência pessoal a todos os líderes locais - As pessoas que se reuniram para ouvi-lo foram, na sua maioria, trazidas por lideranças locais. O momento do encontro com o candidato é também, para estas lideranças, a oportunidade de provar que são conhecidos, respeitados e possuem acesso ao candidato. Sua referência a eles (todos, se algum for omitido ele não esquecerá) é indispensável para que continuem trabalhando na campanha com entusiasmo.

Finalmente, a entrada e saída do candidato são também parte do ato público. Cumprimente o máximo possível de pessoas ao entrar sem deixar de avançar em direção ao local do discurso. Tenha a seu lado, na entrada e na saída, um ou mais assessores para receber bilhetes, pedidos, recomendações, pedidos de encontro etc.

Na saída, dependendo do tempo disponível, cumprimente o máximo de pessoas que puder. Entregue aos assessores a ingrata tarefa de interromper suas conversas, insistindo que você já está atrasado para o próximo compromisso. Instrua seus assessores para que eles peçam às pessoas que colaborem com você, para poder cumprir sua agenda.

Você deve dar a impressão às pessoas que falam com você que tem todo o tempo do mundo para elas. São os seus assessores que, queixando-se de você ("Se a gente não forçar ele não sai daqui, é sempre assim..."), conseguirão tirá-lo da situação, deixando ainda a impressão de que você queria continuar lá, falando com eles.

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